Casa cheia, natal,
mesa farta e posta. Embriagado, pediu a palavra e fez um discurso agradecendo a
presença de todos, nesse dia tão especial. Estava sozinho, e na mesa
apenas uma refeição humilde e frugal.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
NA ESCOLA
As
bolas de papel atiradas e os xingamentos dirigidos a mim doíam feito punhal. Literalmente doíam na canela, os chutes na
hora do futebol, na sala quando participava
oralmente das atividades, era só vaias, sem a intervenção da professora que parecia
gostar das agressões. Não podia contar a meus pais, com medo de revelar o meu
segredo, tentei o suicídio, desisti.
MIRAGENS
Vi uma luz no fim da estrada, que ia sumindo, sumindo,
sumindo de repente tudo se iluminou, e transformou num picadeiro, uma trupe de
palhaço apareceu, depois das estripulias, saíram voando, voando, voando...
silêncio, escuridão.
LABIRINTOS
Sonhei e me vi numa grande extensão de terra,
que era toda cercada por arame farpado,
quadriculada, formando um labirinto, e cada vez que eu transpunha tal labirinto um guarda me apontava
um arma, depois de me interrogar exaustivamente eu era liberado para transpor o
próximo obstáculo, e assim perdurou por
longos dias, até que eu completasse tortuoso percurso. E quando o completei, me
vi diante de uma multidão, toda vestida de branco...acordei.
JUCKBOX
Pediu uma cerveja, prontamente atendida, assentou em uma mesa
do canto. A maquiagem vagabunda escondia o rosto vincado pelo tempo, cílios
sombreados, batom vermelho, perfume adocicado e forte, um convite ao sexo. Sem
ser convidado um homem de meia idade, puxou uma cadeira e assentou ao seu lado,
não fez objeção. De repente começaram a conversar com mais rispidez, nervosa,
deu um garrafada em sua cabeça, ele sacou de um revólver e deu seis tiros, por
coincidência na Juckbox, a divina Maria Bethânia, estava cantando cenas de
sangue no bar, na Praça Primeiro de Maio
INCESTO
INCERTOS DIAS
IMPOTÊNCIA
Ante o
horror da guerra e a impossilbilidade de
detê-la, resignou-se. Foi colher girassóis.
ILUSÃO PERDIDA
ILUSÃO PERDIDA
Quase desmaiou quando viu o seu vestido de
noiva, sonho quase realizado. Casamento feito, festa bonita, noite de núpcias,
puro encanto entregar-se ao seu homem. Tempo passou, os primeiros filhos, as
primeiras desilusões, ele a deixou por outra. Ficoucuidando dos dois filhos,
costurando e bordando, assim continuava...
quarta-feira, 30 de maio de 2018
HOMOFOBIA PATERNA
HERESIA
HERESIA
Cada vez que o via na igreja, algo estranhoe perturbador o incomodava,
como se uma descarga elétrica percorresse pelo seu corpo, erguia aas mãos para
o céu e pedia a Deus que o livrasse daquele sentimento. Foi criado e educado
para o casamento tradicional, sempre escutou que é abominação um homem sedeitar
com outro homem. Confuso e atônito saiu da igreja, indo fazer as suas preces,
bem longe dos curiosos.
GENI, O MINICONTO
GENI, O MINICONTO
Ao acordar, Geni- a que
dava para todo mundo para matar a sua fome- recebe da sua cadela Bolinha um
beijo e um abano de rabo bem carinhosos. Hoje Geni que salvava os pervertidos, que
buscavam em si, os prazeres, negados pelas mulheres
puritanas, doente, foi esquecida. Geni e Bolinha vivem a solidão das fêmeas,
num quartinho qualquer na periferia dos esquecidos.
FEMINCÍDIO
FEMINICÍDIO
Resistiu o
quanto pôde para que o seu corpo não fosse vilipendiado pelo facínora
.Foramminutos aterrorizantes, depois do ato consumado ficou estendida no chão
em estado de choque, sangrando corpo e
alma.
FARISEU
FAGULHAS
FAGULHAS
A luz que
me faltava. Como não tínhamos luz elétrica, li Machado de Assis à luz de
lamparina. Virou fagulhas.
ESPERANDO O TREM
ESPERANDO O TREM
Todo o dia estava na estação na esperança que
ele estivesse de volta, e quando o trem parava, ansiosamente o procurava entre
os passageiros que desembarcavam, em vão. E então chorava copiosamente como
fazia há anos.
ESCAPE
ESCAPE
Para
aliviar a dor, desvencilhou-se por vias intravenosas. Mergulhou em águas
profundas.
EM APUROS
EM APUROS
Era
compreensível o desespero dele, escritor em ascensão, há dias não conseguia
escrever, logo agora em que os leitores e a crítica esperam novos e melhores trabalhos. Tomou um
café, fumou um cigarro, resolveu sair, para espairecer ou quem sabe encontrava alguma
coisa que o motivasse ou inspirasse.
DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ
DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ
Logo após o jantar à luz de velas, colocou
um disco de bolero na vitrola e o
convidou para dançar, depois de alguns passos, dois pra lá, dois pra cá, se
abraçaram e beijaram com carinho extremo, quando deram por si já estavam nus,
se amaram e beijaram vorazmente. Adormeceram, só ouviam o chiado da agulha, no
velho disco de vinil.
DIAS INCERTOS
- DIAS INCERTOS
- Naquela manhã saiu para o
trabalho. Ainda sonolento pelo exaustivo dia anterior. A bicicleta
deslizava asfalto. Em seus pensamentos um pergunta: E agora? Na lerdeza da
sua noite mal dormida quase foi abatido por um ônibus... Enfim chega ao
trabalho. Veste sua mortalha, assina o ponto, adeus às ilusões.
DESERTO
DESERTO.
Andava a
esmo, no semi-escuro da rua deserta. Do outro lado da calçada, ele me ofereceu
o seu sexo. Fui. Continuei deserto.
DESCOBERTA
DESCOBERTA
Só agora adolescente se deu conta de
que algo acontecia, sentia-se inadequado, estranho, alguma coisa não encaixava.
Resolveu olhar no espelho. Olhou João e descobriu Maria.
DESCANSO
DESCANSO
Assentou
cansada. E com olhar perdido no tempo, acendeu um cigarro, deu uma tragada,
descansou o seu fardo.
CURA
GAY
Acordou, ainda
sonolento, olhou para o teto cinzento, percebeu não estar em seu quarto,cama diferente,estava de jaleco, tudo estranho. Lembrou dos
quatro homens que apareceram em sua casa, imobilizando-o. Assustado perguntou à
sua mãe o porquê daquilo, impassível ela pensou: “melhor assim”. Tentou fugir
dali, impossível, não havia escapatória, fora trancafiado como se tivesse uma
doença grave, chorou convulsivamente.
CURA GAY
CURA
GAY
Acordou, ainda
sonolento, olhou para o teto cinzento, percebeu não estar em seu quarto,cama diferente,estava de jaleco, tudo estranho. Lembrou dos
quatro homens que apareceram em sua casa, imobilizando-o. Assustado perguntou à
sua mãe o porquê daquilo, impassível ela pensou: “melhor assim”. Tentou fugir
dali, impossível, não havia escapatória, fora trancafiado como se tivesse uma
doença grave, chorou convulsivamente.
CUIDADO
CUIDADO
Feche a janela, há uma profusão de raios, e eles podem
lhe atingir.Tire a roupa, o calor está insuportável, tome um refrigerante, um
suco, ou água gelada, ou espere que a chuva te refresque. Leia O Corvo, ao
sentir as rajadas de vento na janela, e quando a chuva vier, fotografe a
tempestade.
CIDADE SURREAL
CIDADE SURREAL
Os unicórnios passaram
enfileiradosna manhã em que todos se dirigiam ao
trabalho, assustados, tentavam encontrar
uma resposta, cidade triste, de fenômenos estranhos, onde dragões já desfilaram
por aqui. O que será da próxima vez? Perguntaram
atônitos. Todos se ajoelharam, pedindo clemência, que intercedesse por aquela
cidade de acontecimentos bizarros.
CASAMENTO HOMOAFETIVO
CASAMENTO
HOMOAFETIVO
Era o assunto do
dia, o escândalo do dia, em todas as rodas de conversa só se falava naquilo, “o
mundo está perdido”, diziam todos, cidade pequena de costume e moral
arraigados, contra aquilo iriam se mobilizar, a dona do
cartório sentia-se extremamente constrangida, nunca tinha passado por aquela
situação vexatória. Pela primeira vez na cidade escandalizada se realizaria o
primeiro casamento homoafetivo,
CAIXINHA DE MÚSICA
BICHO DO MATO
BICHO
DO MATO
Cai
a tarde e é pleno silêncio. Estropiado pelo longo dia de caminhada, ele olha a
natureza inóspita, não tem ânimo e nem forças para sair daquele estado de
letargia. Tarde de imenso calor, prenúncio de chuva. O que fazer se ela vier? Um
gavião passa rasante, talvez na captura de algum roedor. Veio a tempestade,olha
em volta, vê apenas tocas de pedra, em desabalada, vai se esconder nelas.
BODAS DE OURO
terça-feira, 29 de maio de 2018
BALADA PARA GAZA
BALADA PARA GAZA
Choramos por ti, ó Gaza
e pelos teus corpos crivados pela
estupidez humana,
pelo sangue derramado de suas crianças,
Mandaremos flores para enfeitar seus funerais, ó Gaza
destroçada,
e cantaremos canções fúnebres,
para que nossos lamentos,
se façam ouvir,
nos corações embrutecidos dos facínoras.
Choramos por ti, ó Gaza
e pelos teus corpos crivados pela
estupidez humana,
pelo sangue derramado de suas crianças,
Mandaremos flores para enfeitar seus funerais, ó Gaza
destroçada,
e cantaremos canções fúnebres,
para que nossos lamentos,
se façam ouvir,
nos corações embrutecidos dos facínoras.
BAILARINO
BAILARINO
Quando a luz da ribalta,
Iluminar meu corpo em sinuosa parábola,
Flutuar, pois assim é preciso,
queria voar, porém voar é pura utopia,
contento em ser um simples mortal.
E quando a intrusa gravidade me devolver ao chão,
não me tornarei um massa disforme,
pois somos equilibristas,
nesse mundo de cordas bambas.
BACANAIS
BACANAIS
Noite
cheirando a lascívia,
os eunucos
conduzem as virgens
para serem
, defloradas
cópulas
ensandecidas,
parindo a dor
das
nubentes.
AVANTE
AVANTE
Desistir jamais,
avançar sempre.
Se há cercas retirá-las,
se há pedras, arrancá-las, se há escuro, clareá-lo
se há medo encorajai.
Por isso leais companheiros,
avante,
a luta é árdua, sabeis,
mas a vitória é plena de gozo
Desistir jamais,
avançar sempre.
Se há cercas retirá-las,
se há pedras, arrancá-las, se há escuro, clareá-lo
se há medo encorajai.
Por isso leais companheiros,
avante,
a luta é árdua, sabeis,
mas a vitória é plena de gozo
AUTO-EXTERMÍNIO
AUTO-EXTERMÍNIO
O poema de
tanto ser esquecido,
Cometeu
auto-extermínio.
Não haverá
velório,
Nem marcha
fúnebre.
ATRIZ
ATRIZ
Venha
que a platéia te espera
para
rir com a sua graça,
e
chorar com o seu drama.
Sei
que apenas representa o seu papel,
personagem
vira gente de verdade,
façamos
de conta que tudo é real,
embora
seja mentira.
Hoje
pode ser burguesa,
amanhã
suburbana, meretriz.
Mas
quanta generosidade em assumi-las!
Por
isso para sempre seja louvado o seu ofício.
AS CURVAS DA BR 381
AS CURVAS DA BR
381
Quando
eu estiver deslizando
sobre
as curvas da BR 381,
e
o retrovisor por efeito de miragem
aparecer
o seu rosto,
verá
que estamos em sintonia nos perigos,
dessa
louca e assassina estrada.
Vela
por mim, enquanto os pneus deslizam sobre o
asfalto
sinuoso, e eu não sei se estarei junto a
ti,
pois
os nossos sonhos podem
se
perder e morrer
nas
curvas da BR 381.
APENAS
APENAS
Caso
não queira dizer seu nome, não diga.
Caso
não queira dizer de onde veio, não diga.
Caso
não queira falar de você, não fale.
Ama-me
apenas esta noite
e
isto me basta.
AOS AMIGOS AUSENTES
AOS AMIGOS AUSENTES
às vezes olho a rua, na esperança,
que apareçam,
inútil,
estão desaparecidos , e muito me dói a incerteza,
Se vivos ou mortos, mas onde?
Em que vala comum, se encontram?
Em que cova rasa, se encontram?
Tantos sonhos,
perdidos nos
subterrâneos,
entãoseguirei
por aqui meus camaradas,
e tenho a
certeza que nada foi em vão,
o sonho ainda
não acabou,
apenas adormece,
e quando
acordar, virá como a estrela
nanoite escura a
clarear nossos caminhos,
nossa liberdade.
AMOR ENTRE POETAS
AMOR ENTRE
POETAS
O
poeta Paul Verlaine
amou
o poeta Rimbaud.
O
poeta Rimbaud amou o poeta
Paul
Verlaine.
O
amor entre poetas era mais amor
e
mais poesia.
AMIGOS
AMIGOS
Se pudesse
prenderia
meus amigos
dentro de uma redoma,
porque amigos
nunca podem
estar longe,
Amigos têm que ser onipresentes,
estar perto de nós,
a toda hora,
todo dia.
Mas amigos voam,
e como os amamos,
deixamos que eles voem.
vão embora,
ficam longe,
vão navegar outros mares
outras paragens.
Mas sei também que eles
voltam,
mesmo que seja breve à volta,
sempre será eterno o abraço.
Amigos têm que ser onipresentes,
estar perto de nós,
a toda hora,
todo dia.
Mas amigos voam,
e como os amamos,
deixamos que eles voem.
vão embora,
ficam longe,
vão navegar outros mares
outras paragens.
Mas sei também que eles
voltam,
mesmo que seja breve à volta,
sempre será eterno o abraço.
AMANHÃ
AMANHÃ
Amanhã eu posso ser,
amanhã posso não existir,
amanhã é incerta,
de infinitas possibilidades.
Amanhã eu posso ser,
amanhã posso não existir,
amanhã é incerta,
de infinitas possibilidades.
ALDEIA GLOBAL
ALDEIA GLOBAL
Tecle e tenha o mundo a seus pés,
o mundo está logo ali,
diante dos seus olhos;
o que era inatingível
está diante de ti,
virtual,
a sua aldeia antes encravada
nos rincões,
agora navega pela rede
em ondas globais.
Tecle e tenha o mundo a seus pés,
o mundo está logo ali,
diante dos seus olhos;
o que era inatingível
está diante de ti,
virtual,
a sua aldeia antes encravada
nos rincões,
agora navega pela rede
em ondas globais.
ACUADO
ACUADO
Estou perdido na
selva rodeado de lobos,
por todos os
lados, sem matilha, sem armas,
sem lugar onde
possa fugir.
Fugir para onde?
Olho pra suas
garras e para os seus olhos,
estão ferozes,
prontos para o
ataque.
ABUTRES
ABUTRES
Há nuvens cinzentas sobre o céu do Brasil
e revoada de aves de rapina,
com garras afiadas,
Grasnando o seu ódio.
ABRA SEUS OLHOS
ABRA
SEUS OLHOS
Ajoelhe e reze pela sua ignorância,
beije a mão de quem te guia pelo paraíso
das ilusões.
Ore pela sua cegueira,
entoe hinos celestiais
para louvar o seu masoquismo.
Estenda a sua mão e deixe que outro cego te guie,
e verás no que vai dá.
Abra seus olhos,
antes que seja tarde
A OLHO NU
A OLHO NU
Observo
o seu corpo a olho nu,
quero
devorá-lo.
Canibalismo
erótico, explodindo entre os poros.
É
irracional a minha libido.
Pois
que seja irracional, sem pudores.
A JANELA E O DRAGÃO
A JANELA E O DRAGÃO
Da janela,
vejo o dragão, vociferando os seus detritos,
a mangueira no meio do pátio,
dos prédios
cinzentos e desfigurados,
pássaros
cantam, eis o alento!
A BELCHIOR
A BELCHIOR.
Vá ser pasto para os vermes,
poeta!
Sabemos a estupidez da morte,
mas sempre nos honra com a sua
presença,
chorar o luto,
abraçar a dor, nos resta
então seguiremos por aqui,
fazendo versos,
vivendo a divina comedia humana,
ate o dia em que seremos
pasto para os vermes!
A MORTE DA POESIA
A MORTE DA POESIA
A poesia saiu a caminhar pela cidade e tinha chovido,
veio um carro em alta velocidade e jogou lama na poesia,
em seguida veio um carro velho e jogou dióxido de carbono na cara da poesia,
como vivia no mundo da lua, quase foi atropelada por um motoqueiro que a xingou:
-saia do meio da rua, filha da puta.
veio a bicicleta que desviou dela numa fração de segundos,
veio o cavaleiro esporeando seu animal e quase a pisoteou,
a moça que sonhava com seu namorado nem deu bom dia,
o político que cumprimentava seus eleitores, nem a reconheceu- poesia não dá voto.
A louca a falar mal dos problemas da cidade a xingava- vá caçar serviço sua vagabunda!
O policial quase a prendeu por vadiagem,
os cães a lambia,
o pedreiro nem dava importância, tinha paredes a levantar,
o gari quase a varreu,
o professor, imagine fez troça, afinal era de exata,
o homem de negócios a odiou,
não cogitava a hipótese de perder tempo
a municipalidade pensava seriamente em decretar a sua inutilidade pública,
e varrê-la através de decreto municipal para outras bandas.
A poesia saiu a caminhar pela cidade e tinha chovido,
veio um carro em alta velocidade e jogou lama na poesia,
em seguida veio um carro velho e jogou dióxido de carbono na cara da poesia,
como vivia no mundo da lua, quase foi atropelada por um motoqueiro que a xingou:
-saia do meio da rua, filha da puta.
veio a bicicleta que desviou dela numa fração de segundos,
veio o cavaleiro esporeando seu animal e quase a pisoteou,
a moça que sonhava com seu namorado nem deu bom dia,
o político que cumprimentava seus eleitores, nem a reconheceu- poesia não dá voto.
A louca a falar mal dos problemas da cidade a xingava- vá caçar serviço sua vagabunda!
O policial quase a prendeu por vadiagem,
os cães a lambia,
o pedreiro nem dava importância, tinha paredes a levantar,
o gari quase a varreu,
o professor, imagine fez troça, afinal era de exata,
o homem de negócios a odiou,
não cogitava a hipótese de perder tempo
a municipalidade pensava seriamente em decretar a sua inutilidade pública,
e varrê-la através de decreto municipal para outras bandas.
BODAS DE OURO
BICHO DO MATO
BICHO
DO MATO
Cai
a tarde e é pleno silêncio. Estropiado pelo longo dia de caminhada, ele olha a
natureza inóspita, não tem ânimo e nem forças para sair daquele estado de
letargia. Tarde de imenso calor, prenúncio de chuva. O que fazer se ela vier? Um
gavião passa rasante, talvez na captura de algum roedor. Veio a tempestade,olha
em volta, vê apenas tocas de pedra, em desabalada, vai se esconder nelas.
BIEJO DE DESPEDIDA
BEIJO DE DESPEDIDA
Depois de beber o café, beijou os filhos e a mulher, sem a certeza de que voltaria a revê-los. Verificou se de fato tinha colocado a marmita na a mochila e de novo olhou para os seus, já saudoso. Chegando ao trabalho, ainda sonolento, cumprimentou a todos, como de costume. Começando o expediente, subiu no andaime bem alto, sentiu vertigem despencando lá de cima, atrapalhando o trânsito, cujos motoristas insensíveis à tragédia berravam nomes feios,
A viúva aos prantos, o envolvia em seus braços, dizia ser fiel até os últimos dias, terminou ali na contramão, mais uma linda historia de amor.
AVIAOZINHO
AVIÃOZINHO
_Caralho, mas que tênis massa, meu!! Tamanho era o seu contentamento que se não fosse o medo do ridículo,
sairia pulando pelas vielas
da comunidade, tênis comprado com o dinheiro do trabalho de aviãozinho. Só
pensava em arrasar com as minas no baile funk e deixar os manos babando de
inveja. Ia distraído quando em um cruzamento viu que dois policias o cercava,
correu não o suficiente
para evitar o pior, recebeu pelas costas uma rajada de balas, morreu segurando
o seu par de tênis, que ficou todo desfigurado pelas poças de sangue.
AUTOBIOGRAFIA
AUTOBIOGRAFIA
Lutou
incansalvemnte para ser reconhecido como escritor, nada. Hoje mora em um asilo,
sem amigos, sem família, sem poesia. Triste poeta!!
ATÉ QUE O CIÚME NOS SEPARE
ATÉ
QUE O CIÚME NOS SEPARE
Quando o Cravo e
a Rosa se encontraram foi paixão à primeira vista que terminou em casamento,
celebrado portodas as flores do jardim.
Tempo passou, a
paixão foi se acabando, vieram as primeiras brigas, Rosa desconfiava que o
Cravo se enamorava da bela Margarida,
que dias depois confirmou ser verdade, foi uma briga que deixou o Cravo ferido,
todo arranhado pelos espinhos da Rosa, que ficou toda despedaçada de tanta dor.
ASSIM NASCEM AS MULHERES
ASSIM
NASCEM AS MULHERES
Assustou quando viu o sangue inundar sua
roupa íntima, gritou. Depois do espanto, percebeu: deixou de ser menina, nasceu
a mulher.
AS CARTAS DE AMOR
AS CARTAS DE AMOR
Todas as cartas de amor podem ser ridículas para o
poeta, para as meninas que batalham no Juá, não, era matar saudade, um pouco de
afeto verdadeiro. Mas como escrevê-las? Rua do Buraco, onde existia uma bica
comunitária, foi ali que elas conheceram uma menina de nove anos, já
alfabetizada, que passou a escrever as tais cartas, para isso teve que esconder
com medo da sua mãe preconceituosa. As cartas eram enviadas marcadas por beijos
e juras de amor eterno.
AS APARÊNCIAS ENGANAM
AS APARÊNCIAS
ENGANAM
Quando
aproximei, ela assustou e protegeu a sua bolsa. Sou negro.
ANTÍDOTO
ANTÍDOTO
Entrou em um boteco e pediu um copo cheio de cachaça.
Esperava resolver por algumas horas, as suas questões existenciais.
AMIGA PARA SEMPRE
AMIGA PARA SEMPRE
Cansado da sua
eterna companheira de existência, a pobreza, se aventurava às vezes jogar na
loteria, durante as horas que antecedia ao sorteio, fazia planos mirabolantes.
Quando chegava a hora do sorteio, o coração disparava e nada, nenhum número
sorteado, bebia uma cachaça e pensava nas contas que tinha de pagar.
AMBIGUIDADE
AMBIGUIDADE
Ele jurou que me
amava, me beijou, fez amor comigo, foi embora. Recolheu-se ao seu sacratíssimo
sacramento.
ALÍVIO
ALÍVIO
Acordou do sono profundo em que
estava, acendeu a luz, olhou ao seu redor e tudo estava tão confuso, caótico.
Acendeu um cigarro e depois de algumas tragadas, colocou o cigarro em um
cinzeiro, abriu a janela e sentiu o sol bater em seu rosto, sentiu
um pouco de paz, como se algo o aliviasse daquele estado de
sonambulismo. Então colocou no toca disco A primavera das Quatro Estações de
Vivaldi.
A VIA SACRA DOS EXCLUÍDOS
A VIA -SACRA DOS EXCLUÍDOS
Como pesava e doía aquela cruz. Negro, órfão aos seis anos, a mãe morreu
de cachaça e miséria, pai desconhecido. Roubou para matar a fome. A multidão em
êxtase gritava: -“BANDDO BOM É BANDIDO MORTO”.
A UM CERTO AMIGO
A UM CERTO AMIGO
Venera tanto a morte que faz dela
o seu discurso filosófico. Amante incondicional de música clássica pede quando
morrer que encenassem em três atos a sua despedida terrena. Ao dar o último
suspiro tocassem a Suíte no 1, Op. 46, durante o velório tocassem árias, ou se
houver alguém que as cantassem, melhor seria, e durante o cortejo que tocassem
a Cavalgada das Valquírias, e como ato final a Primavera das quatro estações,
quando o seu corpo estiver sendo entregue aos vermes.
A UM BOBO DA CORTE
A UM BOBO DA CORTE
Exerce com maestria o dom da bajulação
na corte provinciana. Ao avistar um membro da corte fica em alvoroço, assim
como um cão que abana o rabo quando recebe um petisco. É o leva e traz oficial
da corte, e o faz em troca de favores e afagos, se oferece em préstimos,
fazendo o máximo de esforço para tudo saia da melhor maneira. E assim vive os
dias, na ilusão torpe de ser importante aos olhos da corte e a população, escamoteando
a sua condição de pústula e boçal.
A MORTE DA CIDINHA
A MORTE DA CIDINHA
Cidinha foi encontrada morta logo de madrugada, na escada
que dava acesso a um cortiço de moradores braçais. Foi crime? Morte súbita?
Preta pobre, puta, além de aviãozinho do tráfico, quem se interessaria?
Á ESPERA
À ESPERA
Meus pais me disseram que iam
viajar e que voltariam em poucos dias,
tinha seis anos, hoje tenho trinta anos, e até hoje não sei o paradeiro deles,
às vezes sonho com eles voltando, naquele fusca vermelho, felizes me tomando em seus braços me
abraçando e me beijando, acordo, caio no
choro. Há anos em vão os procuro, como outros filhos de desaparecidos políticos,
nada de resposta, continuam insepultos em uma vala comum, mas quanta dor isso
me causa!
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