sexta-feira, 15 de junho de 2018

HISTÓRIAS DE FUTEBOL



Explodiu em gritos, quando o seu time marcou o gol, aquele gol era suficiente para a classificação que não aconteceu devido ao gol marcado nos minutos finais pelo centroavante adversário. Cabisbaixo arriou a bandeira, foi embora, triste.


terça-feira, 12 de junho de 2018

VISITA




Entre,
não arrepare na desordem,
o tempo anda escasso
e ainda sou desorganizado.
Se acomode, a casa é simples
mas o recebo de todo coração.
Onde tem andado?
Poderia ter dado notícias,
mandado carta,
telefonado,
enviado um e-mail.
O bom é que você veio,
estou feliz por isto.
Me dê um abraço,
vamos celebrar o nosso encontro,
bebendo uma taça de vinho
e brindar ao deus Baco,
provando que a vida é bela
apesar de tudo.

VEREDAS




Grandes são os caminhos,
de estreitas veredas.
Grande ser tão veredas,
a palmilhar os ermos dessa vida.

.TUDO QUE PARECE PODE NÃO SER


Tudo que parece pode não ser,
o que está a olho nu
pode estar escondido nas entrelinhas,
dissimulado nas segundas intenções.


TRISTE MADRUGADA


Na madrugada de domingo
ele se enforcou.
Para ele não haverá mais  madrugada,
nem galos cantando.

LETREIROS DE NEON


Os letreiros de neon embaralham meus olhos,
ando  cidade  afora, feito zumbi.
Há tantos desejos em mim nessa noite,
eu quero todos.
Os automóveis passam apressados,
os seus  faróis parecem fragmentos de discos voadores.
A! quem me dera se existissem discos voadores
e abduzisse todos os meu desejos,
mas discos voadores não existem!
Sigo cidade afora levado pelos desejos,
e em cada esquina quero consumá-los,
mas em cada uma delas só encontro,
letreiros de neon em apelos comerciais.

TRANS


Quando olhar para mim
e pensar que sou, não sou,
sou duplo querendo ser uno,
dissonância entre corpo e desejo,
masculino e feminino
em plena diáspora.


TEMPOS DIFÍCEIS


Nos dias de hoje não saia de casa,
não abra a porta,
não abra a janela
 Tome cuidado o inimigo te espreita na esquina,
ferozes, empunhando seus fuzis.
Vivemos tempos difíceis,
oh! Quem me dera ver aquela luz no fim do túnel!

TEMPLO


Meu Corpo é o meu templo,
se sagrado ou profano, não importa,
nele mora os meus desejos,
guardiões da minha essência.
..

TARDE QUALQUER


Estou deitado vendo TV,
e ouvindo as babaquices do apresentador gordo,
entrevistando um loura burra,
com ares de celebridade.
Desligo a TV,
ligo o rádio para ouvir o futebol,
para ouvir o locutor tentando fazer do cabeça de bagre,
o craque da bola.
Abro a janela e vejo os crédulos passarem
indo a igreja para expiar seus pecados e acertar as contas com Deus,
e depois dormir o sono dos justos.
Volto a TV  do mesmo apresentador e suas babaquices,
que agora solta gargalhadas do ridículo alheio.

VIAGEM


Eu, quase sonâmbulo, olhando a noite,
pela fresta da janela,
talvez procurando objetos voadores não identificados,
talvez procurando nada.
Vejo uma estrela sozinha,
e enterneço com a sua solidão,
quero abraçá-la, bobagem, é tão longe!
Veio o sono, mergulho na profunda
e recôndita escuridão,
viajo galáxias.

SUSSURROS


Sussurros na madrugada na rua perdida,
corpos roçando amores suburbanos,
orgasmos proletários,
inundados de lascívia, suor e desejos.


SINOPSE


Comecei a fazer poesia já na adolescência sem no entanto levar a sério o ofício
de fazer poesia. Apenas pura traquinagem de garoto, bela traquinagem diga-se. Os anos passando, fui mundo afora batalhar a vida e nada de fazer poesia, mas lendo muita poesia, prosa, enfim todo livro que me desse bagagem informativa e humana, bagagens essas que vieram contribuir de forma significativa na minha
Muito se tem discutido a função do artista, sem que conclusão alguma tenha chegado, de fato tal discussão é de longa data e cada teórico tem asua opinião.
Arte pra mim não é simples fruição, arte é engajamento, compromisso, fruição e desbunde é coisa para burguês.
Foi com esse compromisso e engajamento que eu desenvolvi na minha poesia e agora está reunido nesse livro que eu chamei UM GRITO EM CADA POEMA, e de fato cada poema é um grito.
Gritar pelas causa sociais, falar de um sistema perverso, o Capitalismo, estar em consonância com o que se passa no mundo, as guerras, os genocidas.
Gritar contra as incertezas e medo do homem do nosso tempo, gritar contra a intolerância, contra a falsa ideia de felicidade, gritar contra a solidão das noites vazias, gritar contra a inadequação de estar no mundo, falei da libido dos animais, discutioamor de forma filosófica, ousei ser criança e a ela também dediquei os meus gritos.

SERÁ?


O que foi feito dos velhos camaradas?
Apertar as mãos dos velhos canalhas?
Será que minha ideologia caducou,
que perdi o bonde da história?
Sei não.
Desconfio que os velhos camaradas se corromperam
e isto é muito triste.


SER MENINO


Deixe voar, menino,
a reboque do vento,
a magia de ser criança.
Não se preocupe com o tempo,
o seu tempo agora é voar,
então voe menino, mesmo que não tenha asas,
você pode, ser menino é voar!!


SENTIDOS


Beber sua saliva,
cheirar seu hálito,
sentir o seu sexo latente
e cheio de volúpia
pronto para a cópula.


SENHOR DE SI MESMO


Vade retro satanás,
com a dicotomia, Deus e o diabo,
o homem é senhor de sim mesmo.


SENHOR CAPITALISMO



Senhor Capitalismo, veja a fila enorme que há nos quarteirões, Senhor Capitalismo!
Sei que o Senhor é desprovido de compaixão e que é vã esse meu apelo.
E nem sequer vai ceder um pouco, porque o seu egoísmo é atroz.
 Como é doloroso não ter como levar comida para os seus filhos, Senhor Capitalismo,
mas como a sua mesa está farta, o que importa isso!
Mas como é doloroso não ter onde morar com os filhos, mas o que importa isso, Senhor Capitalismo,
mora-se em suntuosa residência!
Como é doloroso não ter assistência médica, Senhor Capitalismo,
Mas o que importa isso, Senhor Capitalismo,
Dispõe-se dos mais renomados médicos!
Como é doloroso, não ter educação, para os filhos, Senhor Capitalismo,
se os seus estudam nas mais conceituadas escolas!
Como é dolorosonão ter terra  para plantarSenhor Capitalismo
mas o que importa isso, Senhor Capitalismo,
se é vasto o seu latifúndio!!
Mas o pior é não ter direito à esperança, Senhor Capitalismo,
mas o que isso importa, não é mesmo?
Se para o Senhor as possibilidades são várias!!
Mas pelo menos me permita dizer uma coisa Senhor Capitalismo, o Senhor é um monstro!!

SEM LIMITES


Eu não quero ter razão
quero ser a anti-razão,
 quero é perder o juízo,
fazer de você a minha doce loucura,
sair do óbvio, do sensato,
do lugar comum, burlar todas as normas,
regras e convenções, não importa,
eu quero mais é viver esse amor,
sem limites


SEM DESTNO


Estou aqui parado aqui na BR,
esperando que alguém me dê carona.
Para onde vou? Sei lá!
Talvez pra onde o vento me leve.
Nas costas, a mochila,
velha e rota companheira,
onde carrego meus víveres,
e as sandálias já desgastadas pelo tempo,
velha companheira de viagem,
suportam o meu corpo.
Os carros passam apressados,
nada de atender ao meu aceno, deixe estar,
não tenho pressa.
E volto a acenar, e um velho Ford,
atende ao meu aceno,
lá vou eu, mundo a fora,
sem destino.
E volto a acenar, e um velho Ford
atende ao meu aceno,

SAGA


Senhor burguês, o meu sincero bom dia,
humildemente o cumprimento e me apresento,
para doar a minha mais valia,
cheguei aqui aos trancos e barrancos
vindo de onde o Judas perdeu as botas,
onde na minha humilde cama nessa noite,  fiz amor.
E depois de tomar o café puro, pois me faltou o pão,
fiz tirana viagem
para cumprir o longo fardo.
Trouxe na marmita, feijão, arroz, ovo frito,
e alguns pedaços de tomate,
e se não for  ousadia convido para comer comigo,
na hora do almoço, o meu singelo pasto,
depois arrotar o gosto, cochilar a labuta.

ROTINA



Bebo café.
como pão,
cuspo minha saliva,
vou ao banheiro e jogo
as minhas merdas fora.
Nada a fazer
a não ser ver o tempo
passar,
calmo,
tranquilo
tedioso,
senhor tempo,
dono de nós.

RIO SANTO ANTÕNIO


O que sou, daquilo que fui?
Nada. Apenas um fiapinho 
da abundância que fui.
Estou fraco, esquelético,
estou sufocado, sem respirar com
as entranhas entupidas, estou dando o
último suspiro,
agonizo e me causa tristeza a indiferença
daquele que anos a fio carreguei no meu leito.
Por mim passaram os que abasteciam os armazéns.
Sobre o meu leito transportei o gado,
gente que chegava que partia,
gente que pescava pra matar a fome,
infelizmente não pude evitar a morte
daqueles que se aventuravam,
fui eu que na cheia fertilizava as margens,
abastecendo com fartura dos paióis,
aqui nasceu uma cultura, lenda, mitos
fui testemunha ocular da estupidez humana,
fui esse gigante esquecido e enjeitado
que carregou no seu bojo de forma generosa tudo isso,
só não se esqueça de uma coisa também,
se eu morrer, morrerão todos vocês.

RESES


As sirenas aflitivas chamam os seus cordeiros
e eles vão, ganhar os seus míseros vinténs.
Na boca o gosto do café, pão e manteiga,
misturam-se  ao gosto amargo da aguardente,
é difícil mesmo arrotar essa vida, reses,
a caminho do abatedouro.

RÉQUIEM PARA O MONSTRO


A quantas tragédias o Capitalismo ainda irá anunciar?
Sinto muito em te dizer: muitas ainda,
Porque é desprovido de compaixão,
Vendem nas bolsas de valores os seus cadáveres,
nem se comoverá com o choro das viúvas e órfãos.
Anunciará um banquete para bendizer a sua usura,
e nada lhe interessa,
a não  o ser o famigerado lucro.


REDE SOCIAL


Aqui somos felizes,
nada nos atingem, somos suficientes.
Tristeza, que nada.!!!
Sorrimos,
escondendo a nossa dor,
nos desnudamos sem pudores,
exibimos nossos corpos,
como se fôssemos o máximo em beleza
num simples truque nos transformamos em reis e rainhas,
narcisismo de dar inveja em Narciso.
Ridículos, que nada!! Sentimo-nos o máximo na arte de fazer humor.
Bobos da corte, rimos da nossas bizarrices, de nós mesmos.
Aqui parecemos encontrar o elixir da eterna juventude,
a finitude nos parece inexistente,
as nossas mazelas? Façamos de conta que não existem,
nos refugiamos via satélite,
o mundo real não nos importa,
estamos tele transportados para a terra do faz de conta,
como nos contos de fada

RECADO


Não me venha com suas teses,
Teorias e rezas e nem me venha
com seus projetos de cura.
Por acaso somos doentes?
Anormais?
O problema não  somos nós,
o  problema existe é na cabeça de vocês.

RECADO DOIS


Não esconda de você
Dizendo aos outros o que não é.
Viver é assumir,
é dar a cara a tapa.
Sei que o preço a pagar é alto,
mas não há recompensa maior em ser verdadeiro.

QUANDO MORREM OS POETAS


Quando morremos poetas,
vão-se embora , os versos.
Virarão estrelas,
para nos deixar  mais encantados.

PROMETO


Prometo não ser o príncipe,
nem o sapo,
dos contos de fada.
Prometo ser o mais comum dos mortais,
mas um ardoroso e fiel companheiro

PROFANO DESEJO


E ele se entregou ao seu homem,
quase morreu de tanto prazer,
sonhou estrelas,
teve orgasmos múltiplos.
Se o mundo acabasse ali
no paraíso estava,
profano desejo.


PROCURA


Andei  procurando por mim
e não encontrei
procurei por toda a casa,
vasculhei as gavetas
e não encontrei.
E como dentro de casa
eu não estava,
pus anúncio no jornal, fiz novena,
consultei os orixás,
fiz mapa astral,
fiz regressão,
e nem assim fui encontrado.
Mas não desisto, insisto
persisto em procurar
mesmo que escondido
entre as galáxias.

PRIVATIZE


O meu coração não está a venda,
mas se o senhor capital, quiser,
 privatize o meu coração,
e negocie em qualquer bolsa de valor
espalhadas mundo a fora.

PRESSÁGIO


Os canalhas na surdina
preparam
as nossas mortalhas.


POEMINHA



Queres a felicidade?
Eu te vendo em suaves prestações.


POEMA TRÁGICO


Bebeu sua cachaça, aliviar
suas dores suas causas.
Desceu ardendo goela abaixo,
tão difícil de engolir.
O mundo rodou feito pião.
Fez graça, a platéia riu, puro escárnio.
E depois de cessada a festa,
foi-se embora recolher ao seu infortúnio.
Morreu sozinho dias depois de causas hepáticas.


POEMA INDIGNADO



Não me confies o papel ridículo de bobo da corte,
me falta graça, talento para bajulação,
digo e repito: cansei de exercer o papel da servidão voluntária,
quero mais é escrever os meus versos coloquiais,
sem rimas, versos livres e sem a pretensão de celebridade,
quero gritar ao mundo, e mandar todos para os quintos dos infernos,
e depois mandar beijos ardentes, abraços fraternos,
pedindo desculpas, amo todos vocês,
com recomendações para se agasalharem bem no frio.

POEMA INCIDENTAL


Soam os clarins...
na tarde fúnebre,
é a fúria cruel dos imbecis,
deflorando desejos púberes.

PÉS DE BARRO


Os  semi deuses de Wall Street
disseram e fizeram acreditar
que são infalíveis e que Wall Street
é o centro do universo,
e que todos deveriam se curvar.
Mas como mito tem o seu pé de barro,
de agora em diante Wall Street se chamará,
a rua das  ilusões perdidas,

PEQUENO POEMA PARA GRANDES QUESTÕES


Que tens cidade que eu a amo,                     
Se em ti mora todas as misérias humanas?


PEDIDO


Não me deixe esta noite,
o frio é cortante, a solidão atroz,
tome um vinho, ouça um blues,
apague a luz, dancemos.
A vida é curta, o amor chama,
então fique.

PAIXÃO



A paixão arde, 
causa febre, delira,
vê cavaleiros voando ao céu
em dias de tempestade,
embriaga de desejos,
lateja os sentidos

OS RATOS



Os ratos estão aí
se articulando em surdina,
para roer queijos
na dispensa alheia.
Ratos do subúrbio
unem-se a ratos
da zona sul
Ratos da zona sul unem-se a ratos do surbúbio,
e não há gatos que possam
detê-los,
porque escapam pelas frestas,
dos anais subterrâneos.


OS IPÊS DA MINHA CIDADE


Os abutres nas suas tocaias,
Estão a espreitar as suas presas,
Para destroçá-las e depois
Tripudiar sobre o resto


OS ABUTRES


Os abutres nas suas tocaias,
Estão a espreitar as suas presas,
Para destroçá-las e depois
Tripudiar sobre o resto


ORGASMOS FELINOS


Os felinos fazem escandalosamente
Amor sobre o telhado.
Mas como são vorazes os orgasmos felinos.


ÓRFÃOS


Debaixo de mim a cidade dorme:
Adormece as suas picuinhas,
As suas misérias.
Os vira-latas quebram o silêncio,
Talvez solitários, talvez no cio.
Em algum lugar os amantes roçam
Seus corpos libidinosos.
Abro a janela, garoa. Garoa fina e cortante.
È meia noite? Uma hora?
Sei lá!
Talvez os meus fantasmas respondessem.
Adoráveis fantasmas!
Companheiros inseparáveis.

OLHAR NOTURNO


Debaixo de mim a cidade dorme:
Adormece as suas picuinhas,
As suas misérias.
Os vira-latas quebram o silêncio,
Talvez solitários, talvez no cio.
Em algum lugar os amantes roçam
Seus corpos libidinosos.
Abro a janela, garoa. Garoa fina e cortante.
È meia noite? Uma hora?
Sei lá!
Talvez os meus fantasmas respondessem.
Adoráveis fantasmas!
Companheiros inseparáveis.

OLHANDO ESTRELAS


Quando eu estou triste, vou olhar estrelas
às vezes da minha janela, ou às vezes da soleira da minha porta,
e os meus olhos viajam pelo infinito, quero agarrá-las,
mas o infinito é tão longe, então contento somente em vê-las.
Uma nuvem negra cobre as estrelas, talvez chova,
quem sabe a chuva venha, e se vier então molhe os meus desejos,
carregue pela enxurrada todos  os meus ais,
mas a nuvem passou, não veio a chuva,
então continuo a olhar estrelas,
até que elas se vão,
brilhar em  outras noites.

O PALHAÇO


O palhaço também é um fingidor,
se desprende da suas dores,
para curar dores alheias.
Bobo da corte,
ilusionista da graça,
nos leva ao paraíso
de risos espalhados circo a fora.
Bendito seja o palhaço,
paladinos da alegria,
encantadores de gente.

O GATO DE ALICE



O gato de Alice
narciso,
enamorado da sua imagem
quis agarrá-la,
o espelho se quebrou
em cacos.
O gato de Alice,
chora em miaus.

O FRAGELO DE LORCA



Jaz Lorca estendido no chão,
pleno de sangue,
da cor dos seus versos.
Eles temem.
Versos são fuzis.

NEGAÇÃO



                                                                 

Jamais comerei a hóstia dos infiéis,
e nem beberei o vinho dos hereges.
Jamais morrerei como Cristo na cruz,
para salvar os canalhas.
Quero a insanidade dos loucos,
que vão por aí,
a pregar a suas parábolas.


segunda-feira, 11 de junho de 2018


AO SOM DOS BEATLES
Ao  longe podia-se ouvir Beatles no bar copo sujo. Beatles na sua grandeza viajava os infelizes.


terça-feira, 5 de junho de 2018

VULNERÁVEL



Senti sua mão pesada dentro da minha roupa íntima, quis gritar, sua outra mão sufocou o meu grito, como sua força era tão  grande não tive como resistir, foi enorme a minha dor, acordei horas depois, estraçalhado.


VIVENDO O MITO DE SÍSIFO


Sonhei que subia uma montanha lamacenta. Subia até a metade dessa montanha e voltava deslizando, alguma coisa que eu não sei, me segurava, voltava a subir e acontecia a mesma coisa várias vezes. Eu vivi o mito de Sísifo e não sabia.

VIA SACRA DOS EXCLUÍDOS

Em procissão a tradicional família brasileira cantava louvores. Ofegante e em silêncio, ele carregava o seu fardo.


VADE RETRO SATANÁS



_Torturei, sim. Arrependo de não ter matado todos eles, gente ordinária! Naquele tempo que era bom, a gente resolvia tudo no cacete, no pau-de-arara, era só neguinho falar em revolução que o pau comia. Hoje não, é uma esculhambação só, tremo só de ouvir falar nessa tal de democracia, de direitos humanos, que nojo!


VACILÃO


Com sua arrogância e machismo peculiar, ele me diz: - não precisa gostar, é só abrir as pernas.

TRÊS POETAS NUMA NOITE DE CELEBRAÇÃO


Os três caminhavam pela avenida rodeada de mangueiras, as quais escondiam as luzes da iluminação pública, vinham de um sarau poético, em comemoração ao  aniversário de um dos poetas, e um pouco embebecidos, conversavam sobre tudo: a arte era o mote preferido, coisas banais, coisas lascivas, sobretudo celebravam o encontro, desejando que fossem eternos aqueles momentos e outros vindouros, celebravam a vida apesar das suas questões existenciais e os seus dramas cotidianos, então se abraçavam, sublimando as dores comuns.

TIO JOÃO


Meu tio João não era louco, ficou. Foi a morte do seu cavalo tordilho, que o deixou assim, cavalo bonito, marchador, em todas as festas fazia bonito, era a sua paixão, para ele era um  carro de luxo. Por uma razão que ninguém soube explicar, o seu cavalo morreu, foi uma tristeza profunda, entrou em depressão. Os dias se passaram tio João cada vez pior, ninguém compreendia a sua dor, meus avós e tios com ele brigava, pedindo que fosse trabalhar, por ignorância não o compreendia, não oferecia ajuda.E depois de tantas brigas, tio João tomou uma decisão: enrolou em uma coberta e foi morar no mato, só aprecia na hora do almoço, minha avó percebendo que tio João não queria contato com ninguém, colocava o prato de comida em cima da fornalha e saía, entrava, comia, tomava um copo de água e voltava   para o mato só voltando à noite, quando todos já estavam dormindo, minha avó  deixava e fogo aceso para que ele esquentasse a sua comida, jantava, ia dormir, quando amanhecia, voltava para o mato. Assim foi passando o tempo, tio João cada vez mais louco, a saúde foi perdendo, adoeceu, voltou para a casa, sendo cuidado pela minha vó e irmãos, morrendo dias depois, tio João descansou o seu fardo, sendo enterrado num lugarejo chamado Coqueiros, a sua morada definitiva.

TECENDO SONHOS


É preciso entregar a costura, então   a costureira põe a chulear, contorna e contorna, fazendo zigue-zague, desenho mágico, a moça espera com aflição e deseja estar mais bonita para o namorado. Depois de feito o contorno do vestido, hora de fazer a bainha, depois os botões, casa a casa, a costureira alinhava os sonhos. Então terminada a costura, entrega feita mediante pagamento justo, a costureira espera que a sua arte brilhe no corpo da moça enamorada.

SUSTO


Um pingo de chuva aproveitando do vão do meu telhado, caiu na minha testa, acordei assustado pensando que fosse uma bala perdida.


SUBVERTENDO A QUADRILHA DE DRUMOND



João filho de Joaquim e de Margarida nasceu numa tarde chuvosa, em uma maternidade próxima a sua casa, prematuro ficou por alguns dias na maternidade, ganhando peso e resistência, viveu e cresceu cercado de muito carinho, teve uma adolescência livre dos arroubos comuns a tal idade, optou por  estudar Jornalismo, foi  na faculdade que conheceu Tereza, classe média como ele, filha de Jonas e Beatriz, nascida numa manhã ensolarada, em um dia de passeata contra a Ditadura Militar, e seus pais alheios aos problemas políticos e sociais, só queriam curtir aquela filha amada e desejada, criança tímida, fechada em si, não teve uma infância e adolescência como as  outras crianças, já na fase adulta teve  uma paixão avassaladora por Raimundo, pedreiro, filho de Carlos e Gorete, nascido no morro, vindo ao mundo pelas mãos da  parteira Jussara, esse foi criança de verdade, brincou de bola de gude, empinou pipa, jogou bola na rua, pique esconde, fez todas as  peraltices próprias de criança da favela, desde cedo teve que lutar pela sobrevivência, frequentou pouco a escola, vendeu picolé, limão no semáforo, algodão doce, servente de pedreiro e com o pedreiro mestre aprendeu a ser um também, foi quando trabalhou na casa de Maria, filha do General do Exército, Jonas Albuquerque e Escolástica,nascida numa noite chuvosa, no hospital do Exército, teve educação rígida, não se misturava a qualquer criança, estudou em  uma escola Católica, onde aprendeu todas as coisas  ensinadas às moças educadas ao casamento, e foi num domingo quando ia à missa viu Joaquim, filho de Carlos Eduardo e Cristina, nascido numa madrugada, no rigoroso inverno carioca de 1964,  que desde cedo sofreu com a ausência dos pais, militantes de esquerda, que apareciam e desapareciam, como num passe de mágica, foi criado e educado pela avó, Dona Socorro, mulher guerreira, fez de tudo para que nada faltasse ao neto, não revelava ao neto, o real motivo da ausência dos pais, que despareceram de fato, cujo paradeiro Dona Socorro e Joaquim até hoje não obtiveramresposta. Joaquim cresceu, fez faculdade, teve uma paixão platônica por Lili, na verdade Eliete, filho de Arnaldo Soarese Débora, nasceu numa tarde chuvosa, desde cedo foi uma criança alternativa, questionava desde cedo as normas estabelecidas, dando muito desgosto aos conservadores pais. Viveu como quis, namorou quem quis, quando ficou sabendo do interesse de Joaquim, desconversou, imagine livre como era, nem queria ouvir falar em casamento, anos depois com medo da solidão, refez o seus conceitos, casou-se com J. Pinto Fernandes, homem sério empresário do ramo de móveis, filho de Arthur Pinto e Salete Fernandes, nascido no dia em que o governo militar decretou o AI-5, cuja mãe morreu devido a complicação do parto, o pai não quis saber mais de casamento, sempre ausente, coube a tia educá-lo, sendo ela de convicções severas,


SONHO MACABRO



Sonhei. E o lugar me parecia um galpão.. Ambiente escuro, só algumas luzes havia ali, tornando-o semi-iluminado. E o que eu vi era aterrorizante, digno de Edgar Allan Poe, corpos pendurados em ganchos, tal qual em um açougue, estremeci diante de tal cenário. Não sei se tomado pelo torpor a imagem foi esmaecendo diante dos meus olhos, não sei se desmaiei, desapareci na penumbra que o sono nos proporciona.

SOLUÇÃO


Subiu em uma árvore, ficou pensativo por alguns instantes, não desistiu. Se jogou. Encontrou na morte, a solução para o absurdo.


SIMPLES ASSIM


Não trouxe champanhe e nem caviar, nem vinho Lambrusco e Gorgonzola, trouxe um litro de cachaça e lingüiça calabresa. Comeram e beberam o seu banquete operário, naquela noite foram felizes do mesmo jeito

SEM SAÍDA




Olhou para todos os lados, um luz incidia fortemente sobre os seus olhos, não conseguia distinguir onde estava e como foi parar ali, olhou para o teto e viu câmeras que pareciam olhar para si de uma forma muito raivosa, parecendo intimidá-lo, gritou, em vão, cada vez que tentava sair dali, algo o impelia, descansava, recomeçava, e tomado de novo pelo cansaço, dormia.

SEM RUMO





Tentou escrever alguma coisa e não conseguiu. Ligou a televisão e como sempre só se ouvia falar em tragédia, desligou. Ligou o rádio e de novo as  mesmas notícias. Então saiu, sem destino algum, onde chegasse era isso mesmo.



SAUDADE BREJEIRA







Era bonito de se ver, poeira levantando lá pelas bandas do ribeirão, eu já intuía, era boiada, de onde estivesse corria para a varanda, para ver de mais perto, na estrada próximo à entrada do nosso pequeno sítio, ficava encantado de ver os bois andando em trotes, enfileirados. E o aboio dos vaqueiros? Como eram melodiosos e tristes! Mas a boiada obedecia, parecia para o meu olhar de criança imaginativa, que boi tinha sentimento, tal era a calma que a boiada ia, calma que às vezes era quebrada por um boi rebelde, estourava, e todos o seguia, os boiadeiros valentes e acostumados a lidar com tal situação de novo colocava tudo em ordem. E ao longo da estrada a boiada ia desaparecendo, deixando-me saudoso de bois e aboios.

QUATRO LUAS




Andava a esmo cidade a fora. vi quatro luas numa poça d´gua. Eu não estava bêbado. Estava surreal.


PSEUDO HUMILDADE





Tomou a comunhão e de mãos cruzadas olhou para o chão “em humildade”, na sua contrição de fé pediu a Deus saúde para o seu gado, pois almeja justo e sagrado lucro.


PONTE FABRICIANO/ACESITA


PONTE FABRICIANO/ACESITA


Julgou-se necessário. E quando andava na ponte do Rio Piracicaba, viu sua imagem refletida na água turva do rio, imediatamente se jogou, morreu em pleno gozo do seu narcisismo





POEMA QUE VIROU UM CONTINHO




Ele chega altas horas da noite, bate sorrateiramente na minha porta. Ele está ofegante e tem pressa em satisfazer seus desejos de macho. Abro a porta, ele não diz nada, também não digo nada, entrego a seus caprichos, e por alguns  momentos penso que estou no paraíso. Fazemos amor? Sei lá! Não importa. Depois de saciado os seus desejos ele vai embora, sem dizer nada.



PERDIDO NUMA MANHÃ QUAÇQUER



Tentou escrever alguma coisa e não conseguiu. Ligou a televisão e como sempre só se ouvia falar em tragédia, desligou. Ligou o rádio e de novo as  mesmas notícias. Então saiu, sem destino algum, onde chegasse era isso mesmo.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

PERDIDO DE AMOR



E me amou daquela  maneira que só ele sabe amar. E me abraçou daquele jeito que só ele sabe abraçar, me fez cafuné, mordeu minha orelha, disse coisas amáveis no meu ouvido. Me deu um beijo de despedida e eu  fiquei morrendo de amor.


PARADOXO

Ficou perplexo quando soube que o seu filho estava envolvido com o assalto. A frase bandido bom é bandido morto ficava martelando o tempo todo na sua cabeça.


OUTRO POEMA QUE VIROU UM CONTINHO


OUTRO POEMA QUE VIROU UM CONTINHO



Entre, não arrepare na desordem, o tempo anda escasso e ainda sou desorganizado. Se acomode, a casa é simples, mas o recebo de coração.
-Onde tem andado? Poderia ter dado notícias, mandado carta, telefonado, enviado um e-mail.O bom é que você veio, estou feliz pó isto. Me dê um abraço, vamos celebrar o nosso encontro, bebendo uma taça de vinho e brindar ao deus Baco, provando que a vida é bela apesar de tudo.






OBITUÁRIO




Comunicamos com pesar o falecimento do poeta Jurandir Gomes Almeida, conhecido pelo pseudônimo de Cornélio Pena, falecimento ocorrido ontem quando atravessava a rua em delírio poético, quando um carro em alta velocidade o atropelou, cujo motorista fugiu sem prestar socorro. Recomenda-se a todos que comparecerem ao velório e ao enterro que recitem poesias do referido poeta, como sabemos era mestre em fazer sonetos, embora em desuso o cultivou até o seu último suspirar poético


O PRIMEIRO PRESENTE





É difícil descrever a emoção que ele teve ao ganhar pela primeira vez um presente, simples, mas significativo para quem é pobre, um chapéu de palha com listras na vertical, ganhara da sua irmã para participar da quadrilha da escola, e dançou aquela quadrilha com extremo entusiasmo. Não o tirava para nada, tanto é que o colocou ao seu lado na cama, e quando dormiu sonhou estar em um jardim cheio de borboletas revoando sobre o seu chapéu e que veio um vento e o levou. Acordou assustado procurando o seu chapéu o qual estava todo amassado, dormiu e deitou sobre ele, de fato foi-se embora o encanto, como prenunciou o sonho.


O PRIMEIRO ORGASMO


O PRIMEIRO ORGASMO
O meu primeiro orgasmo? Inesquecível. Foi uma descarga de prazer  jorrando no corpo dele todo meu amor, foi em um lugar insólito, mas era nosso  paraíso.


O PRIMEIRO LIVRO





Quando ganhei o livro de contos universais, “As mais belas estórias”, cursava a quarta série, fiquei deveras encantado, pois era a primeira vez que eu  ganhava um livro, cujo o conto Ali baba e os seus quarenta ladrões, me  deixou em estado de êxtase, até hoje são meus amigos inseparáveis.

O HOMEM DA CABEÇA DE FLORES DO CAMPO




Não consegui entender semelhante coisa, acordei todo perfumado, parecia cheiro de flores do campo e era, espantei e vi sobre a minha cabeça gérberas, girassóis, margaridas, malmequeres, azaleias, papoulas, lírios, hortênsias, enfim toda a flora campestre. Tentei de toda maneira  desvencilhar de  inusitada situação. Causou alvoroço, na minha pacata cidade, depois as pessoas se acostumaram, aceitei.


O ENRUSTIDO DO CASARÃO



Ficava o dia todo na janela do casarão, olhando os homens que passavam, já velho e até então não teve a coragem de assumir a sua sexualidade, cada homem que passava, imaginava cenas tórridas de sexo platônico.


O CASO DAS BORBOLETAS





Espirrou e do seu nariz saíram centenas de borboletas. Estaria louco?. Ficou desesperado. Não lembrava de nada que pudesse ter provocado aquela alucinação. Bocejou pra ver se aquele fato se dava só com o nariz, que nada, da sua boca saíram outras tantas borboleta, piscou e dos olhos saíram borboletas gigantes, suava em bicas de tamanha aflição, e dos seus poros saíram outras tantas borboletas. Pedir socorro? Quem poderia acreditar naquela história maluca?  Seria motivo de chacota para a  familia e moradores da pequena cidade. Não vendo saída optou pelo auto- extermínio.




Para  desfazer o nó da garganta, resolveu tomar uma cahacinha. Ardeu..



MULHER






De onde vem essa força, que é capaz de se transformar em muitas?
Mulher é puro mistério, alma guerreira forjada na luta,
feminina por condição, materna por natureza,
por isso os deuses lhe trazem loas.
Mulher esteio do mundo,
abrigo dos filhos perdidos que voltam pra
casa sedentos de aconchego


MORMAÇO DE TARDE



Éguas no cio,
garanhões enlouquecidos,
orgasmos incandescentes
explodindo feito vulcões

MOLA PROPULSORA




Estamos nus, por aqui,
bêbados errantes tateando os labirintos
das noites escuras, dos vãos da cidade,
margeando sua s sarjetas, bebendo a aguardente lodosa
das incertezas,
sentindo na pele o açoite vil,
do carrasco domando nossa ira,
estamos perdidos na selva  e sem armas,
e nem nos livra a nossa vã utopia,
e se nos resta tê-la como único lenitivo
que ela seja mola propulsora,
da inabalável teimosia.