MEMÓRIAS TORTUOSAS
MEMÓRIAS TORTUOSAS
Fui colocado no
pau-de-arara, numa tarde que prenunciava chuva, aliás tempestade. O calor era
insuportável, apesar das nuvens negras esconderem o sol, da pequena fresta do
quartel onde estava, via os relâmpagos riscarem o céu, os trovões em
seguida explodiam sua fúria, e isso
aumentava mais o meu pavor. Os meus algozes
conversavam baixinho em um canto, certamente tramando formas mais perversas
de me torturar. Vieram em minha direção, pensei: a minha hora chegou. Os quatro
em uníssono disseram: “comunista , filho da puta”, e em seguida levei uma saraivada de tapas no rosto, nesse
momento a tempestade desabou, não seria exagero dizer que daquele momento em
diante no meu corpo uma tempestade
também desabou, socos, cigarro no nariz, tapas na orelha, eletrochoques,
suportei tudo sem entregar os meus companheiros, e quando perceberam que o meu
estado era deplorável, fui retirado do pau-de-arara e deixado ali mesmo,
moralmente e fisicamente estraçalhado, não vi mais nada, nem mesmo a luz que
atravessava a pequena fresta da janela.
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